EM DEFESA DA TOLERÂNCIA RELIGIOSA
(Aderaldo dos Santos Alves, APLAC)
Cena vergonhosa, vexatória e dantesca, em pleno século XXI, ao florescer dos primeiros dias deste ano. Triste lembrar da psicóloga que, por desejar ser “tatuada” com símbolos inerentes à crença de matriz africana, foi-lhe negado pelo profissional o direito de fazê-lo.
(fonte fotográfica: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=396108)
A efeméride fora escolhida para a singular comemoração por assinalar-marcar exponencialmente a data em que, na Bahia, vergonhosamente, uma mãe-de-santo morreu, após ser vítima de atos violentos e covardes praticados por fanáticos, intolerantes, preconceituosos.
Ao criar o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, o governo brasileiro de então, no Dia Mundial da Religião, apontou a necessidade de aprofundar o diálogo entre as crenças diferentes, as convicções diversas, os segmentos divergentes, as visões adversas, os pensamentos antagônicos.
Objeto precípuo da lei é a tomada de consciência e primazia pela convivência amistosa, condigna e respeitosa entre os diferentes, os plurais.
No nosso país, neste sentido, como ocorre em nível mundial, confissões cristãs, sob aplausos doutras e muitas, há bons tempos, vêm trabalhando, através do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs – CONIC, cujos resultados são animadores quanto a plena desenvoltura do ecumenismo, estimulado pelo Conselho Pontifício pela Unidade dos Cristãos (CPUC) e pelo Conselho Mundial das Igrejas (CMI), destacando-se a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (SOUC).
Iluminada pelo tema bíblico: “Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos.” (cf. Jo 15, 5-9), neste ano de 2021, como expressão do grau de comunhão das igrejas para juntas orarem por uma unidade cada vez mais plena, desejo do próprio Cristo (Jo 17, 21), a semana acontece em períodos diferentes nos dois hemisférios.
O período tradicional, no hemisfério norte, ocorre de 18 a 25 de janeiro, enquanto no hemisfério sul, já que janeiro é temporada de férias, as igrejas preferem o ciclo que vai do domingo da Ascensão do Senhor ao domingo de Pentecostes, como é o caso do Brasil, isto é, de 16 a 23 de maio.
Cabe ressaltar, também, que há um amplo e generoso entendimento com as diversas religiões, culturas, filosofias e demais segmentos, através do diálogo inter-religioso, intercultural e entre as diversificadas correntes filosóficas, científicas e artísticas.
Impõe-se uma rígida e cuidadosa ação educativa direta junto aos fiéis e adeptos; e, indireta, sobre toda a sociedade, pois, o mau “espírito” da intolerância subjaz no interior das várias classes sociais e pode exibir-se a qualquer pretexto.
Uma das características do povo brasileiro é a convivência pacífica e ordeira entre os diferentes. A miscigenação racial é bem uma prova dessa realidade, olhada com certa admiração por outros povos. Cabe-nos recordar, entretanto, que já se constataram, em passado não muito distante, casos de intolerância, sobretudo no campo religioso.
Quase sempre a intolerância religiosa ou de quaisquer outros tipos, todas decorrem do desconhecimento dos valores dos outros, portanto, causados por uma estreiteza de visão de conjunto.
Como um país laico, o Brasil não pode ter uma crença religiosa oficial, mas, a obrigação tem-na de garantir a liberdade de expressão das várias crenças e proteger essas manifestações.
A instituição do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa sinaliza, portanto, para o revigoramento da convivência harmoniosa entre as diferenças que compõem a sociedade brasileira.
Sejamos tolerantes! Respeitemos os plurais! Admiremos as diferenças! Defendamos a tolerância religiosa!
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