JOSÉ PAULO ALVIM EM CRÔNICAS: O VIAGRA DO INTERIOR

 O VIAGRA DO INTERIOR.

(Aymoré Alvim, ALL, APLAC, AMM).

 

Seu Praxedes vivia com a mulher, dona Suzana, em um pedaço de terra lá pras bandas de São Luís da Chapada, onde cultivava mandioca para fazer farinha.

Em certo dia, dona Suzana começou a notar que Praxedes estava fracassando nas empreitadas.

- O que está acontecendo contigo, homem, tu não eras assim?

- Mulher, vontade eu até tenho, mas na hora a coisa não dá.

- Isso não é outra mulher, Praxedes?

- Que outra mulher?

- Então, é algum mal olhado ou fraqueza de homem. Acho bom tu ires amanhã falar com teu compadre “Sostêno”.

No outro dia, Praxedes foi falar com o velho Sóstenes, rezador e curador de fama por aquelas bandas.

- Compadre, eu ando fraquejando com a mulher. Vim saber se o senhor tem algum remédio para mim.

Seu Sóstenes saiu e voltou com um litro cheio de um líquido escuro, uma garrafada.

Compadre, este é “tire e queda”. Tome meio copo antes das obrigações.

Praxedes voltou para casa muito satisfeito. À noite, fez tudo como o rezador mandou. Nada. Praxedes ficou encafifado.

- Mulher, não é possível. O compadre disse que era “tire e queda”.

- Mas não foi. Volta lá amanhã e explica pra ele.

No outro dia bem cedo.

- Compadre, nada. O remédio não funcionou.

- Compadre Praxedes, então leve estes dois pedacinhos de pau (pau seco). No primeiro dia da próxima lua cheia, tu mandas tua mulher preparar com um só pedaço uma xícara de chá e meia hora antes da função tu bebes tudo de uma vez.

No primeiro dia de lua cheia, dona Suzana já meio ressabiada resolveu fazer o chá com os dois pedaços.

Praxedes tomou e o resultado não demorou.

- Homem de Deus, que diabos de chá é esse? Já não dá mais pra aguentar. Tô toda doída.

- Eu não sei, mulher, não quer abaixar. Já está até doendo.

E não baixou mesmo. Passaram banha de cobra, fizeram chá, reza e outras coisas mais e nada.

- De madrugada, puseram Praxedes numa rede e levaram-no para Pinheiro.

- Seu Zé Alvim, me dê um jeito no Praxedes. Nunca vi esse homem assim.

Meu pai mandou que entrassem com Praxedes e após examina-lo:

- Mulher, isso é Priapismo que lá “no centro” vocês chamam “pau de quati”. Como Dr. Antenor Abreu está na terra vou mandar chamá-lo.

Eu fui. Ao chegar papai explicou ao Dr. o ocorrido e os dois entraram para a sala de operações que ficava, na parte interna da Farmácia.

Algum tempo depois, os dois saíram com Praxedes já aliviado.

- O que aconteceu, Dr.? Perguntou dona Suzana.

- Foi o que Zé Alvim te disse. Eu dei uma injeção no lombo dele e baixou. Mas é bom não tomar mais esse chá.

- Pode deixar, Doutor. Esse homem pode até não prestar mais pra nada, mas esse chá ele não toma mais.

E foram embora.

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OBSERVAÇÃO: José Paulo de Carvalho Alvim (Zé Alvim), é patrono da cadeira de número 3 da APLAC, que teve por primeira ocupante, sua filha, a especialista em parasitologia, a saudosa Moema de Castro Alvim. Farmacêutico nascido em 10/01/1981, em Codó-MA, radicado em Pinheiro-MA, onde fundou a Pharmácia da Paz, a única da região no início do século XX, que tantos pinheirenses socorreu. Por ocasião da aproximação dos 130 anos do seu nascimento, publica-se uma série de crônicas feitas pelo acadêmico Aymoré Alvim (filho de Zé Alvim), as quais fruto do convívio familiar e da observação do exercício profissional  paterno. São reminiscências que revelam costumes, cenários e particularidades de um povo e de uma cidade, quando ainda era Vila de Santo Inácio do Pinheiro.

Comentários

Unknown disse…
Ainda bem que o Aymoré é imortal. Tem muitas histórias para contar. E todas muito interessantes, verdadeiras e bem escritas. Um registro vivo d vida de nossa terra.
Unknown disse…
Congratulo-me com o douto e ilustre confrade Aymore Alvim. E uma verdadeira preciosidade a explanaçao, tao elucidativa quao historico-atualizada. Loas. Saudaçoes aplaquianas.