CENTENÁRIO DO ACADÊMICO LOURIVAL DE CASTRO GOMES.
Cabelos brancos, alto e magro como uma juçareira ao vento, fala polida e erudita, esse era Lourival, Seu Lola, britânico nos horários, passando pelas ruas do Bairro da Matriz, quase sempre em direção ao comércio de seu Inácio, esquina das ruas Antenor Abreu e Joaquim Mendes, onde sentando-se de pernas cruzadas, com toda elegância tomava cerveja gelada, com uma alegria austera, como um aristocrata que fazia questão de dar significância a tudo que fazia, independentemente da atitude ser grandiosa, ou simples, como tomar cerveja em uma quitanda.
Uma bibliografia viva que pensava alto, transitando entre passado e presente enquanto sonhava com o futuro, com muita lucidez, afinal não bebia cerveja para se embriagar, mas sim para refrescar a mente e alegrar o espirito com uma boa conversa. Vivia muito bem trajado, com esporte fino, composto quase sempre de calça branca de linho ou cambraia e sapatos brancos (impecáveis apesar das ruas de piçarra), e a camisa com cores vivas e estampas alegres, ou espalhafatosas, mas com muita elegância, que englobava um chapéu branco parecido com esses do panamá.
Como amigos tinha todos que o tratassem bem e adorava promover festas para reuní-los. Alegre-zangado, temperamento de uma personalidade combativa, que detestava covardia e injustiça e, por isso mesmo, andava geralmente com um canivete para não facilitar ou dar chance ao azar.
Mas sua arma mesmo era a alegria e uma vareta, espécie baqueta, com a qual andava. Com ela em punho dizia: “passa cachorro.” Era suficiente um cão bandoleiro vir em sua direção latindo, ou mesmo gente saliente faltar com o respeito e aquela inofensiva vareta se tornava um poderoso instrumento de defesa contra cachorro e gente.
A cerveja era só pretexto para conversar, inclusive em dias chuvosos, quando tomava um chopp, "bem gelado" para espantar mofina. Gostos excêntricos de quem foi um excelente professor universitário, conhecedor de laboratórios químicos e parasitologia, mas que se imortalizou nas artes plásticas, com sua criatividade fecunda de simplesmente bem viver seus 92 anos, com muita autenticidade.
LUMINOSIDADES.
(Acd. Maurício Gomes)
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