FOI ASSIM...



Hoje, 23 de novembro, Pinheiro comemora 218 anos de sua fundação e os 19 anos de fundação da APLAC. Parabéns a todos os pinheirenses e aos aplaqueanos.


FOI ASSIM...
(Aymoré Alvim, APLAC, ALL).

E foi assim mesmo que tudo aconteceu. O rio não estava pra bagrinho, não. No conflagrado ambiente, até então tranquilo, lá pras bandas dos campos baixos cortados pelo Pericumã, as escaramuças entre brancos e índios estavam cada vez mais acirradas e as reclamações não paravam de chegar ao Palácio do Governo, em São Luís.

Próximo do final do ano de 1805, o governador à época, Antônio de Saldanha da Gama, resolveu intervir.

Numa mormacenta tarde, em pleno calor de dezembro em Alcântara, o capitão-mor, Inácio José Pinheiro, tomava um ventinho, pitando o seu cigarro de palha, em frente ao prédio do Comando da vila, quando chegou um esbaforido ordenança e lhe entregou uma carta do dito governador.

Nela, Saldanha da Gama o ordenava a ir resolver essas pendengas entre fazendeiros, posseiro e índios. O orientava a tomar qualquer medida que atendesse às partes a fim de serenar os ânimos. Mas, o período das chuvas, o nosso inverno, estava chegando e, assim, só lá para o mês de setembro ou outubro poderia ir, quando os campos estivessem secos.

E, assim, ele fez.

No final de outubro de 1806 com alguns ordenanças, partiu para a empreitada. O dia em que chegou por lá, eu não sei, mas que ele chegou, chegou. E, com certeza, reuniu as partes em litígio e buscou um acordo que agradasse a todos como queria o governador.

- Se ele conseguiu?

-Tudo indica que sim. O que sabemos é que ele demarcou uma ponta de terra com 3 léguas de comprido por uma de largura que avança pelos campos do Pericumã, no sentido nordeste. Ali reuniu os índios e suas famílias numa pequena povoação que passou a ser conhecida por Lugar do Pinheiro. Isso ocorreu a 23 de novembro desse mesmo ano. Foi o núcleo inicial do município de Pinheiro.

-Todos concordaram?

-Por certo que sim, pois não se encontra documentos da época que relatam a continuidade dos atritos.

Retornando a Alcântara, o capitão Inácio Pinheiro pretendia, no verão do ano seguinte, voltar a São Luís para prestar contas ao Governador da incumbência recebida. Mas, muito antes de chegar o verão, veio a saber que o Saldanha da Gama havia sido substituído por D. Francisco de Mello Manuel da Câmara a quem o povo apelidara de “cabrinha” devido ser mulato e muito abusado. Tomou conhecimento, também, de que a criatura era um sujeito atrabiliário, violento, devasso e arbitrário; um espécime, um pouco mais grotesco, do nosso atual corrupto.

Com tais qualificações, Inácio Pinheiro achou mais prudente enfrentar a fera e a travessia Alcântara – São Luís e vir dar satisfação ao homem antes que viesse saber por vias transversas, pois a fuxicaria no Maranhão daquela época corria solta.

E foi o que fez.

No início de maio, foi recebido pelo Governador a quem relatou tudo o que acontecera. O “cabrinha” ficou satisfeito com o que ouvira. Isto encorajou o Capitão Pinheiro a lhe propor que doasse as terras demarcadas àquelas famílias de índios como patrimônio e para que elas as possuíssem como coisa sua e de seus descendentes.

- Mas, Capitão, essas terras não vão ser reclamadas mais tarde pelos fazendeiros da Região? Inquiriu-lhe D. Manuel.

- Não vão ser não, Governador. Todos concordaram mesmo porque essas terras não lhes interessam. Só servem mesmo pra cultivar mandioca e os índios aceitaram.

Aí, então, D. Manuel mandou lavrar o documento de doação das terras do Lugar do

Pinheiro, a título de “Dacta” e Sesmaria, conforme lhe pedira Inácio José Pinheiro, que foi publicado, em 13 de maio de 1807.

Essa é a história da fundação de Pinheiro, tendo por marco inicial o Lugar do Pinheiro, fundado em 23 de novembro de 1806 pelo Capitão-mor de Alcântara, Inácio José Pinheiro, em uma Sesmaria de índios que lhes fora concedida, em nome do príncipe regente, D. João, pelo Governador do Estado.

Alguns conterrâneos ainda não aceitam essa origem para a nossa terra. Claro que preferem a outra versão que nos foi contada. A da grande fazenda. Acham-na mais elegante, uma origem se não mais nobre pelo menos mais fidalga. Puro preconceito!

Mas é essa a história verdadeira da nossa cidade e do nosso povo, o povo pinheirense, fruto do caldeamento de índios, negros e caboclos, ao sol ardente da Baixada, no cadinho verdejante dos campos do Pericumã.

Não acreditas? Então vá ao Arquivo Público do Estado e pede para dar uma olhada, nas folhas 65 v., do Livro nº 06 (seis) de Dacta e Sesmaria. Assim, comprovarás.

É isso aí, meu!

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