A MEDICINA NO MARANHÃO E EM PINHEIRO

Inicialmente saúdo os integrantes da atual Diretoria da Academia Pinheirense de Letras Artes e Ciências-APLAC, na pessoa do seu Presidente Agnaldo Mota, pela feliz e justa iniciativa de prestar uma homenagem aos MÉDICOS MARANHENSES e especial AOS QUE EXERCERAM SUA PROFISSÃO EM PINHEIRO, pelo muito que fizeram e fazem para salvar a vida das pessoas ou mantê-los com saúde.


No Maranhão, no período colonial, mais precisamente no momento da fundação da cidade de São Luís, em 1612, destaca-se a presença de um médico cirurgião francês trazido na expedição de La Ravardière. Foi Thomas de Lastre, que nos deu, inclusive, um exemplo de humanização da medicina, ao cuidar dos portugueses seus adversários feridos na Batalha de Guaxemduba, quando da retomada de São Luís pelos portugueses em 1615.

Nesse mesmo século XVII, existia o Hospital Militar, o mais antigo hospital de São Luís, instalado ainda no começo do século na então chamada Rua do Hospital, e hoje Rua de Sant’Ana, assim como o Hospital da Providência, que foi fundado pelo Padre Antônio Vieira em 1653, em uma casa alugada e que se mantinha graças à caridade pública. A “arte da cura” era exercida pelos Barbeiros-Sangradores, que eram portugueses ou espanhóis que praticavam pequenas cirurgias, além de sangrar, sarjar, lancetar, aplicar bichas e ventosas e arrancar dentes, além de cortar o cabelo e a barba. Essa atividade perdurou até o século XIX. Nesse mesmo período, os Boticários, como eram conhecidos os farmacêuticos de hoje, faziam remédios, compostos (misturas químicas em geral), para obtenção de medicamentos e produtos de higiene. Nesse século o Maranhão foi dizimado pelas epidemias de varíola. No século XVIII, tivemos outra epidemia de varíola e uma de sarampo.

No século XIX, período imperial, em 1811, o Hospital Militar mudou-se para a antiga Casa de Exercícios Espirituais, dos Jesuítas, também chamada Casa da Madre de Deus, na Ponta de Santo Amaro, ao sul da cidade de São Luís, com o nome de Hospital Regimental, depois nominado Hospital Geral do Estado e hoje Hospital do Câncer Tarquínio Lopes Filho, ao final da Rua de São Pantaleão. Em 1º de março de 1814, foi inaugurado, o Hospital São José da Caridade dos Jesuítas, que a partir de 1836 mudou-se para a Rua do Norte, com o nome de Santa Casa de Misericórdia do Maranhão, onde está até os dias atuais. Já em 1869, foi inaugurado o Hospital Português de São João de Deus, pela Real Sociedade Humanitária 1º de Dezembro, ainda existente. Destaca-se nesse século a vinda para o Maranhão dos primeiros farmacêuticos que substituíram os boticários e dos primeiros médicos que substituíram os barbeiros-sangradores. Ressalte-se também a edição do livro Dicionário Histórico e Geográfico da Província do Maranhão, de autoria do médico maranhense e historiador César Augusto Marques, em graças à cujos verbetes, foi-nos possível saber da história das doenças, dos hospitais e médicos do Maranhão, nos séculos XVII, XVIII e XIX.

No período republicano o Maranhão seguiu a par e passo os Modelos de Atenção à Saúde que se desenvolveram no Brasil, a saber: Modelo Sanitarista Campanhista; Modelo Médico Assistencial Previdenciário; Modelo Médico Liberal; Modelo Médico Assistencial Privatista e Modelo Médico Neo Liberal.

Do início do século XX até 1929 (Primeira República), sanitaristas, guardas sanitários e outros técnicos organizaram campanhas para lutar contra as epidemias que assolavam o Maranhão no início do século (febre amarela, varíola e peste). Esse tipo de campanha era decorrente de uma política de saúde pública importante para os interesses da economia agroexportadora no Maranhão.

No período de 1920 a 1945, não ocorreram grandes transformações na saúde pública, que continuava voltada ao combate das doenças endêmicas, mas a assistência individual começa a se delinear, com o incremento da industrialização no país e o crescimento da massa de trabalhadores urbanos.

Assim, se inicia no Brasil e no Maranhão, o Modelo Médico Assistencial Previdenciário, por meio das reivindicações por políticas previdenciárias e por assistência à saúde.  Foi criada em 1923 as Caixas de Aposentadoria e Pensão, por força da Lei Elói Chaves.  O Governo Federal e os trabalhadores organizaram, junto às suas empresas, as Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP’s), depois transformadas no Governo de Getúlio Vargas (1930 a 1945) em Institutos de Aposentadorias e Pensões, terminando por estabelecer um verdadeiro “ Tratado de Tordesilhas” na saúde pública, onde quem tinha a Carteira de Previdenciário, tinha direito à assistência médica e remédios e o restante da população era considerado “indigentes” com pouca ou nenhuma assistência médica ou remédios.

A partir da década de 1930, a política de saúde pública no país e por extensão no Maranhão, estabeleceu formas mais permanentes de atuação com a instalação de Centros e Postos de Saúde para atender, de modo rotineiro, a determinados problemas.

Para isso, foram criados alguns programas, como pré-natal, vacinação, puericultura, tuberculose, hanseníase, doenças sexualmente transmissíveis e outros. Nesse modelo se estruturaram as Redes Estaduais de Saúde e  a assistência era voltada para os segmentos mais pobres da população, pois os de maior renda, procuravam o cuidado de sua saúde nos consultórios médicos privados.

Na década de 40, expandiu-se no Brasil, e alcançou o Maranhão o modelo de medicina voltado para a assistência à doença em seus aspectos individuais e biológicos, centrado no hospital, nas especialidades médicas e no uso intensivo de tecnologia, também chamado de medicina científica ou biomedicina. Foram construídos em São Luís/MA o Complexo Materno-Infantil Maternidade Benedito Leite e o Hospital Infantil Juvêncio Mattos, assim como o Hospital Psiquiátrico Nina Rodrigues, o Hospital Aquiles Lisboa (para tratamento da hanseníase), o Hospital de Presidente Vargas (focado no tratamento da tuberculose), o Centro de Saúde Paulo Ramos e o Pronto Socorro Municipal “Getúlio Vargas”.

Na década de 50, instalou-se no Brasil e no Maranhão, o Modelo Médico Liberal, no qual os médicos mantinham um vínculo empregatício público em Órgão municipal, estadual e/ou federal em um dos turnos de trabalho e nos outros turnos dedicavam-se à medicina privada em seus consultórios ou hospitais. Havia um forte elo de ligação entre o profissional médico e sua clientela e seus familiares, pois exercitava-se em sua plenitude a relação médico-paciente.  Iniciou-se também nessa década a interiorização da medicina no Maranhão, com a instalação de hospitais nos municípios de Pedreiras, Barra do Corda e Coroatá primeiramente, e depois em Imperatriz, Bacabal, Santa Inês, Pinheiro (Posto Médico), Chapadinha, Buriti, Presidente Dutra, Codó, Balsas, São João dos Patos, Buriticupu, Itapecuru-Mirim, Caxias e Timon.

Na década de 60, expandiu-se o modelo biomédico de atendimento por meio do financiamento e compra de serviços aos hospitais privados, o que serviu para expandir o setor privado de clínicas e hospitais, em São Luís e muitos municípios do interior do Estado, assim como o consumo de equipamentos e medicamentos. Todas essas medidas, contudo, não garantiram a excelência na assistência à saúde no Maranhão. 

Na década de 70, mais precisamente em 1975, definiu-se um Sistema Nacional de Saúde em que as atividades de saúde pública continuavam desarticuladas da assistência médica individual. Em 1977 foi criado o Instituto Nacional de Assistência Médica-INAMPS pelo Governo Federal, com base na Lei nº 6.439, sendo a assistência médica restrita aos que contribuíam para a previdência social. Os demais brasileiros como já salientei acima eram considerados indigentes e atendidos apenas em serviços públicos e/ou filantrópicos. Ainda nessa década surgiu a chamada Medicina de Grupo.

Na década de 80, instalou-se no Brasil, nos Estados e nos municípios, o Modelo Neoliberal. Nessa década tivemos no Maranhão uma forte política descentralização das ações de saúde graças à consolidação das Ações Integradas de Saúde - AIS, à implantação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde-SUDS, que deu continuidade, mais de forma mais institucionalizada, às AIS e à Regionalização das Ações de Saúde, com a divisão geopolítica do Estado em 18 Regiões de Saúde. De grande importância também a implantação de Hospitais Regionais nos municípios-sede de Regionais de Saúde. Ao final dessa década foi criado o Sistema Único de Saúde-SUS, na Constituição Federal de 1988, tornando a atenção à saúde universal e gratuita em todo país.

Na década de 90, foi implantada uma estratégia para mudança do modelo hospitalocêntrico hegemônico, a Estratégia de Saúde da Família (ESF), financiada pelo Ministério da Saúde. A disseminação desta estratégia e os investimentos na chamada rede básica de saúde, com a implantação das equipes de saúde da família: médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários e posteriormente de odontólogos.

No século XX, devemos destacar grandes médicos humanitários, com relevantes serviços prestados ao Maranhão, como Dr. Netto Guterres, o médico dos pobres; Dr. Achiles Lisboa, por sua luta conta a hanseníase; Dr. Tarquínio Lopes Filho, médico cirurgião, o bisturi de ouro; Dr. Nina Rodrigues, na medicina legal e o pinheirense Dr. Odilon Soares, por sua luta contra a tuberculose.

No século XXI, temos no Brasil, uma medicina altamente especializada, com a realização de cirurgias de alta complexidade, como as neurológicas e cardíacas, implante de próteses, transplantes de órgãos e uso de células tronco, para sua restauração, mas de acesso predominantemente aos mais favorecidos economicamente. O SUS, voltado à população mais pobre, enfrenta grandes dificuldades financeiras o que vem ocasionando um grande hiato, entre a atenção primária, de baixo custo e o acesso à medicina especializada, ao que se soma a precariedade das medidas promocionais e preventivas no campo da saúde pública.

Especificamente em relação à Cidade de Pinheiro, temos poucos relatos sobre a medicina e médicos no período imperial. No período republicano, até a década de 40 do século XX, só tivemos a presença em nossa cidade do médico pinheirense Dr. Odilon da Silva Soares, por breves períodos, pois exercia a sua profissão em São Luís, além de ter sido eleito Deputado Federal de 1945 a 1950 e do Dr. Carlos Paiva, também por um breve período, pois fixou residência no Rio de Janeiro. Se algum outro médico esteve em Pinheiro, foi por um período muito curto. A atenção à saúde era prestada pelo Sr. José Paulo Alvim, na sua Drogaria de Paz e pelo Sr. Isidoro, na sua Farmácia Netto Guterres, ambos habilitados em assistência farmacêutica, secundados pelo farmacêutico Almir Soares. Nessa década tivemos 2 médicos prefeitos, Dr. Antonio Euzébio da Costa Rodrigues (1940 a 1943) e Dr. José de Ribamar Carneiro Belfort (1944 a 1945) e em razão de ter esposado a Sra.  Maria Paiva, filha do comerciante Albino Paiva, o Dr. Antenor de Freitas Abreu. Por último o Dr. João Damasceno Figueirêdo.

Na década de 50, meu saudoso pai Orlando Leite, Deputado Estadual por Pinheiro, trouxe alguns médicos para cidade, como: Dr. Romualdo Ferreira de Carvalho; Dr. William Soares de Brito, sobrinho do Dr. Odilon Soares; Dr. Pedro Mata Roma, Dr. Carlos Orleães Brandão e Dr. Ney Carvalho, uns com passagem efêmera em Pinheiro e outros fixando residência.  Finalmente trouxe para trabalhar em nossa cidade, o médico Manoel Soares Estrela, recém-formado pela Faculdade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, com especialidade em Ginecologia e Obstetrícia. Sua presença em Pinheiro, sem demérito dos demais, causou grande impacto na saúde da população, pois mesmo sem contar com os recursos da medicina de hoje, realizou complicadas intervenções cirúrgicas, mormente obstétricas, tendo salvo inúmeras mulheres, não somente de Pinheiro, mas também dos municípios vizinhos. O mais importante é que ele não limitava seu exercício profissional à obstetrícia, mas também à cirurgia geral, clínica médica e pediatria e não raramente o víamos ir ao domicilio dos pacientes, prestar-lhes assistência, principalmente os idosos. A cidade recebia de quando em vez a visita dos médicos pinheirenses Edsilson Paiva Abreu e José de Castro Gomes (atualmente fixou residência em Pinheiro).

A partir da década de 60 e tendo continuidade na década de 70. começaram a pontificar os médicos pinheirenses Aymoré de Castro Alvim; José Carlos Rodrigues; Achilles Câmara Ribeiro, depois secundados por muitos outros filhos da terra. Ainda nessa década tivemos a presença em Pinheiro da médica-cirurgiã, Dra. Ednólia Serra Cordeiro. Nessa época o antigo Posto Médico foi desativado, mudando-se para um hospital e maternidade de pequeno porte, na Avenida Getúlio Vargas, que transferiu seus serviços um pouco mais tarde, para o Hospital e Maternidade construído pela Prelazia de Pinheiro e que foi assumido pela Prefeitura.

Na década de 80, com a ascensão do pinheirense José Sarney à Presidência da República, foi montado em Pinheiro um Hospital Geral, pré moldado, o Hospital Antenor Abreu, municipal, tendo vindo prestar serviços médicos em Pinheiro inúmeros profissionais contratados pelo município, prolongando esses serviços para a década de 90, na qual tivemos também a implantação do Programa Saúde da Família-PSF, com a  expansão das Unidades Básicas de Saúde-UBS, na sede e na zona rural do município.

Finalmente no século XXI foi implantado em Pinheiro um Hospital Regional, nominado Jackson Lago. 

Ao encerrar este texto, peço minhas escusas se omitir algum nome médico, que tenha ajudado a construir a História da Medicina em Pinheiro. 


Prof. Dr. José Márcio Soares Leite
Presidente da Academia Maranhense de Medicina
Membro da Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências - APLAC e seu ex-Presidente do período de 2009/2013

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