O SORRISO DE DOM PEPINO
(Mauricio Gomes Alves, APLAC)Era o ano de 2004. Um dia desses de setembro, onde o sol parece que vai escaldar-nos; o tempo é tão abafado que o suor, mal surge na fronte, evapora em meio a tanto calor. Minha mãe e eu, íamos pela Rua Grande de Pinheiro para comprar algumas peças de tecido, com as quais ela iria costurar roupas para meus irmãos e eu.
Para driblar aquele calor das 15h30min, que mais parecia o sol do meio dia, nós que íamos do Obelisco até a Praça do Centenário, pela calcada da Pharmácia da Paz, atravessamos para o outro lado da rua, onde a sombra era maior e caminhamos na direção da Praça Sarney. Ao aproximar-nos da esquina onde fica a casa dos padres, percebi que o portão de acesso estava entreaberto. Comentei com minha mãe:
- Esqueceram o portão aberto.
Mas quando nos aproximamos, olhamos sentado, numa pequena elevação que beirava a parede e dava suporte para umas plantas, frei José Preziosa, com semblante esbaforido de calor. Ali se pusera para pegar um vento, vermelho de calor, com uma bermuda e uma camisa de botões, segurando em uma bengala com uma das mãos e com a outra apoiando-se na parede enquanto a testa vermelha de calor, derretia-se em suor.
Quando nos viu, acenou balançando a cabeça em sinal positivo, num cordial gesto de saudação. Lembro-me que de imediato, quase que automaticamente, mamãe e eu dissemos:
- Boa tarde Frei José. Tudo bem com senhor?
- Boas tarde. Respondeu o frei em meio há uma ligeira e leve risada que não chegava a ser uma gargalhada, mas teve a agradável sonoridade de um timbre confiante.
Como o portão estava aberto, entramos rapidamente e apertamos a sua mão; e, nesse instante, floresceu-lhe nos lábios um sorriso silencioso, que depois cintilou nos seus olhos, com a leveza da alegria de quem se alegra com uma espontânea expressão de carinho, como aquela de nossa parte e, pelo sorriso que recebemos, penso que houve reciprocidade.
Despedimo-nos e seguimos nosso caminho pela Rua Grande até as lojas de tecidos, porém nunca esqueci a profundidade daquele olhar sereno e sorridente, cintilante de alegria, apesar daquele intenso calor. Um sorriso que desprezava as contrariedades e se derramava em serena delicadeza, com uma simplicidade refinada, no tratar e no agir, que dava ânimo e contagiava como a naturalidade de um amanhecer. No ano seguinte vim para São Luís cursar a faculdade e nunca mais olhei frei José, porem nunca me esqueci daquele momento em que na nosso despedida disse obrigado em italiano aportuguesado.
O tempo passou e, hoje por ocasião de seu centenário, durante a missa rezada na Catedral de Pinheiro, quando a Vice-presidente da APLAC, Iranilda Silva Lima Fonseca, ex-aluna do homenageado, começou a fazer a leitura de uma mensagem em memória de Frei José, penso que no infinito frei José comoveu-se deveras, a ponto de não conter as lágrimas que desabaram em forma de repentina chuva, mas mesmo assim, debaixo de chuva, a queima de fogos de artifício aconteceu graças a maestria de seu Joãozinho Fogueteiro e enquanto a chuva caia, os fogos subiam e explodiam ao som de hinos religiosos, tocados no alto falante da torre da igreja, em honra de Nossa Senhora do Sagrado Coração, padroeira da ordem religiosa que frei José fazia parte.
Um dia memorável para história de Pinheiro era escrito; um dia de emoção, gratidão aqui e além, que a posteridade há de haurir, aquilatando com a serenidade do passar do tempo, o valor e a importância deste Arauto da Educação, pigmeu na estatura e gigante na fé. Quanto a nós e ao presente que nos pertence, cabe-nos apenas vivenciar o que protagonizamos, tomando emprestado de Pe. Risso, a alcunha com que chamava, o aniversariante de hoje, para também dizer: "Grazie Dom Pepino".
Para driblar aquele calor das 15h30min, que mais parecia o sol do meio dia, nós que íamos do Obelisco até a Praça do Centenário, pela calcada da Pharmácia da Paz, atravessamos para o outro lado da rua, onde a sombra era maior e caminhamos na direção da Praça Sarney. Ao aproximar-nos da esquina onde fica a casa dos padres, percebi que o portão de acesso estava entreaberto. Comentei com minha mãe:
- Esqueceram o portão aberto.
Mas quando nos aproximamos, olhamos sentado, numa pequena elevação que beirava a parede e dava suporte para umas plantas, frei José Preziosa, com semblante esbaforido de calor. Ali se pusera para pegar um vento, vermelho de calor, com uma bermuda e uma camisa de botões, segurando em uma bengala com uma das mãos e com a outra apoiando-se na parede enquanto a testa vermelha de calor, derretia-se em suor.
Quando nos viu, acenou balançando a cabeça em sinal positivo, num cordial gesto de saudação. Lembro-me que de imediato, quase que automaticamente, mamãe e eu dissemos:
- Boa tarde Frei José. Tudo bem com senhor?
- Boas tarde. Respondeu o frei em meio há uma ligeira e leve risada que não chegava a ser uma gargalhada, mas teve a agradável sonoridade de um timbre confiante.
Como o portão estava aberto, entramos rapidamente e apertamos a sua mão; e, nesse instante, floresceu-lhe nos lábios um sorriso silencioso, que depois cintilou nos seus olhos, com a leveza da alegria de quem se alegra com uma espontânea expressão de carinho, como aquela de nossa parte e, pelo sorriso que recebemos, penso que houve reciprocidade.
Despedimo-nos e seguimos nosso caminho pela Rua Grande até as lojas de tecidos, porém nunca esqueci a profundidade daquele olhar sereno e sorridente, cintilante de alegria, apesar daquele intenso calor. Um sorriso que desprezava as contrariedades e se derramava em serena delicadeza, com uma simplicidade refinada, no tratar e no agir, que dava ânimo e contagiava como a naturalidade de um amanhecer. No ano seguinte vim para São Luís cursar a faculdade e nunca mais olhei frei José, porem nunca me esqueci daquele momento em que na nosso despedida disse obrigado em italiano aportuguesado.
O tempo passou e, hoje por ocasião de seu centenário, durante a missa rezada na Catedral de Pinheiro, quando a Vice-presidente da APLAC, Iranilda Silva Lima Fonseca, ex-aluna do homenageado, começou a fazer a leitura de uma mensagem em memória de Frei José, penso que no infinito frei José comoveu-se deveras, a ponto de não conter as lágrimas que desabaram em forma de repentina chuva, mas mesmo assim, debaixo de chuva, a queima de fogos de artifício aconteceu graças a maestria de seu Joãozinho Fogueteiro e enquanto a chuva caia, os fogos subiam e explodiam ao som de hinos religiosos, tocados no alto falante da torre da igreja, em honra de Nossa Senhora do Sagrado Coração, padroeira da ordem religiosa que frei José fazia parte.
Um dia memorável para história de Pinheiro era escrito; um dia de emoção, gratidão aqui e além, que a posteridade há de haurir, aquilatando com a serenidade do passar do tempo, o valor e a importância deste Arauto da Educação, pigmeu na estatura e gigante na fé. Quanto a nós e ao presente que nos pertence, cabe-nos apenas vivenciar o que protagonizamos, tomando emprestado de Pe. Risso, a alcunha com que chamava, o aniversariante de hoje, para também dizer: "Grazie Dom Pepino".
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OBSERVAÇÃO:
Giuseppe (José) Preziosa, patrono da cadeira 39 da APLAC, religioso da
congregação dos Missionários do Sagrado Coração, nasceu na Itália em 19
de janeiro de 1921. Fez parte do primeiro grupo de padres italianos que
chegaram em Pinheiro no dia 15 de agosto de 1946. Educador exímio,
trabalhou incansavelmente para erradicar o analfabetismo na cidade de
Pinheiro-MA. Por ocasião do transcurso dos 100 anos do natalício deste
baluarte da educação pinheirense, a APLAC lança uma série de publicações
intituladas "Lembranças de Frei José Preziosa", como uma das formas de
celebrar a efeméride do centenário do nascimento do homenageado.
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