MEMÓRIAS DA USINA DE PINHEIRO: O PISCAR DA LUZ, ERA O FIM.




O PISCAR DA LUZ, ERA O FIM.
(Edilson Araujo, APLAC)

Ainda no final dos anos 60, antes do advento da Boa Esperança, a população pinheirense amargava a falta de energia elétrica, de banheiros dentro das residências e fogão a gás. 

Um motor a explosão funcionando a óleo diesel, mantido pela prefeitura, fornecia energia para as casas, com uma contra ordem: cada residência ter no máximo uma lâmpada, os mais privilegiados (como nunca deixou de haver) usavam no máximo duas, com advertência para uso da segunda, só em casos de comprovadas emergências. 

Imaginem quantas dificuldades enfrentadas por essas gerações. O mundo, o pais, nosso estado do Maranhão e especificamente o nosso município, giravam no "eixo da lentidão". A exemplo de gastarmos 4 (quatro) dias viajando num barco a velas, para chegarmos em S. Luís. A interligação entre os municípios mais próximos como Santa Helena, São Bento e Bequimão eram realizadas em 2 (dois) para ida e volta, se a viagem fosse feita em um potente animal. 

Dimensionando melhor para as gerações jovens, em 1966, estudante morando em Fortaleza, recebia uma carta pelos correios, em 32 dias, e uma ordem de Pagamento para receber dinheiro no Banco do Brasil, tinha demora de até 23 dias. Se fossemos reclamar desse atraso, passaríamos um dia esperando pela fila da TELMA - Cia de Telecomunicações. Eramos realmente lentos! sem jamais pararmos, e deixar cair as esperanças. Porém, éramos felizes! românticos e sem drogas. Não haviam assaltos, também não haviam celulares e os poucos ladrões não tinham interesse por roubar um chamató velho, companheiro dos nossos pés, ou uma camisa sem marcas, de nylon "volta ao mundo" costurada com pontos graúdos e sem alinhamentos. 

Namorávamos pouco, e muito vigiados. Esse bico de luz, liberado pela prefeitura era colocado sobre as cabeças dos casais, para que os pais vigilantes observassem de longe algum posicionamento duvidoso. Essa luz piscava a exatos 15 minutos para 22:00 horas, avisando que o jogo já estava na prorrogação e que os casais ficassem em posicionamento de respeito vez que o pai, faria a última revista, e mandar o namorado embora. Este partia velozmente para chegar em casa, antes que a luz apagasse e a Curacanga se aproveitasse da escuridão.

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INFORMAÇÃO: Construída no século passado, a vocação primeira da Usina de Pinheiro, sempre foi iluminar. A construção inaugurada em 1921, por Josias Peixoto de Abreu, para ser usina elétrica, completa em 2021 seu primeiro centenário, permanecendo fiel ao seu ideal primeiro, que é iluminar; no início, por meio da eletricidade e atualmente pelas letras, artes e ciência. Desde 2006, o prédio abriga a Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências, ganhando o epíteto de "Usina de Ideias". No salão onde outrora o motor a explosão gerava a luz elétrica, está instalado o salão nobre onde a Academia, cujo lema é iluminar.  Por ocasião do transcurso dos 100 anos do prédio da Usina de Ideias, faz-se uma série de publicações intituladas "Memórias da Usina de Pinheiro", retratando curiosidades, cenários e particularidades de um povo e de uma cidade provinciana na labuta diária do pelejar da vida.

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