(FOTO: WIKIMEDIA COMMONS)
Fiódor Dostoiévski, um nome e um legado literário, social, cultural e humanitário. Há 200 anos, Moscou se tornava o berço de uma das maiores genialidades da humanidade, que fez da literatura impulso propulsor de avanços significativos e substanciais no campo das ciências e das artes, pela construção filosófica da ideia e valor do ser humano em si, enquanto sujeito, essência e resultado de suas escolhas e reclusão (in)voluntária, sob um viés psíquico, à luz do arbítrio, livre ou prisioneiro, das mais diversas variantes a que esta suscetível o gênero humano.
Viveu e conviveu com a morte de perto. Antes dos 18 anos ficou órfão da mãe e depois do pai; casou, teve duas filhas, a primeira faleceu com meses de nascida; ficou viúvo cedo; casou-se novamente, foi condenado a morte pela postura coerente com os ideais filosóficos que defendeu, porém sobreviveu pelo perdão do imperador que transformou a pena capital em anos na prisão. Maturou suas experiências existenciais e renasceu, aurindo elevado nível de compreensão da divisa tênue entre o ser e o não ser, o racional e o insano, o real e o imaginário entre outras questões antagônicas, atingindo a liberdade e configurando a idéia de livre arbítrio a uma racionalidade emotiva insaciável, que depura a realidade para atingir o discernimento, inclusive psíquico.
A profundidade da literatura de Dostoiévski decorre da capacidade de ampliar a mentalidade do leitor pela inafastável reflexão filosófica, psíquica e moral que identifica nos antônimos, além da divisa e melindro, perscrutando aquela medida que difere o veneno do remédio. A consistência atemporal dos temas que analisa, formula as questões filosóficas mais serias da existência humana, por isso, seus escritos são tidos como romances filosóficos e/ou romances psicológicos.
Ao longo de 59 anos, dos quais metade absorta em meio às tragédias existenciais e pessoais, não enloqueceu. Decidiu-se e fez-se, com a própria existência, um laboratório no qual burilou a imensa riqueza, contida nas páginas de seus escritos que transpondo a barreira do idioma, legou à humanidade a promoção de uma intensa atividade de busca da essência de questões relevantes a atuação humana racional e emotivamente.
A perspicácia e agudeza do intelecto deste gênio investigaram o significado e o sentido do sofrimento e da culpa, do livre-arbítrio e a partir disso discorreu sobre temáticas as mais variadas, desde a religião, o racionalismo, o niilismo, até questões socioculturais como a pobreza, a violência, o assassinato, lançando balizas mestras sobre o altruísmo, analisando em profundidade transtornos mentais relacionadas à humilhação, ao isolamento, ao sadismo e masoquismo, até chegar aos porquês do suicídio, o qual tratou cirurgicamente, com diagnóstico psíquico de causa-efeito e de forma literária.
Uma cabeça de vanguarda que tratou de questões que, 200 anos após seu nascimento, mostram-se atuais, colapsadas e urgentes em nossa sociedade tecnológica, do isolamento fisco e da proximidade virtual de uma humanidade fragilizada não só pela COVID-19 e a realidade inoportuna e constante da morte, mas também por vários infortúnios e tragédias, naturais, morais, sociais e éticas. Disto decorre a grandiosidade e genialidade da obra de Dostoiévski e de suas ideias, mas com o detalhe de que as percepções que apresenta promovem a reflexão que conduz para uma (re)análise do ser e do existir, como pressuposto de partida das soluções.
Gratidão Dostoiévski, pela tua LUMINOSIDADE.
Acd. Maurício Gomes Alves, APLAC.
Comentários