EM DEFESA DA TOLERÂNCIA RELIGIOSA

 


















EM DEFESA DA TOLERÂNCIA RELIGIOSA
(Aderaldo dos Santos Alves, APLAC)

Cena vergonhosa, vexatória e dantesca, em pleno século XXI, ao florescer dos primeiros dias do ano pretérito. Triste lembrar da psicóloga que, por desejar ser “tatuada” com símbolos inerentes à crença de matriz africana, foi-lhe negado pelo profissional o direito de fazê-lo.

Não podemos esquecer que em 21 de janeiro em curso, por força da lei n° 11635, de 27 de dezembro de 2007, há 15 anos, sancionada pelo então presidente Luís Inácio Lula da Silva, comemoramos o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.

A efeméride fora escolhida para a singular comemoração por assinalar-marcar exponencialmente a data em que, na Bahia, vergonhosamente, uma mãe-de-santo morreu, após ser vítima de atos violentos e covardes praticados por fanáticos, intolerantes, preconceituosos.

Ao criar o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, o governo brasileiro de então, no Dia Mundial da Religião, apontou a necessidade de aprofundar o diálogo entre as crenças diferentes, as convicções diversas, os segmentos divergentes, as visões adversas, os pensamentos antagônicos.

Objeto precípuo da lei é a tomada de consciência e primazia pela convivência amistosa, condigna e respeitosa entre os diferentes, os plurais.

No nosso país, neste sentido, como ocorre em nível mundial, confissões cristãs, sob aplausos doutras e muitas, há bons tempos, vêm trabalhando, através do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs – CONIC, cujos resultados são animadores quanto a plena desenvoltura do ecumenismo, estimulado pelo Conselho Pontifício pela Unidade dos Cristãos (CPUC) e pelo Conselho Mundial das Igrejas (CMI), destacando-se a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (SOUC).

Iluminada pelo tema bíblico “Vimos o seu astro no oriente e viemos prestar-Lhe homenagem (Mt 2,2), neste ano de 2022, como expressão do grau de comunhão das igrejas para juntas orarem por uma unidade cada vez mais plena, desejo do próprio Cristo (Jo 17, 21), a semana acontece em períodos diferentes nos dois hemisférios.

O período tradicional, no hemisfério norte, ocorre de 18 a 25 de janeiro, enquanto no hemisfério sul, já que janeiro é temporada de férias, as igrejas preferem o ciclo que vai do domingo da Ascensão do Senhor ao domingo de Pentecostes, como é o caso do Brasil, isto é, de 18 de maio a 05 e junho.

O tema é um magnânimo convite, um imperativo chamamento para que os cristãos sejamos como a estrela, um verdadeiro sinal, um autêntico símbolo que nos conduz, qual signo e fonte de unidade.

Cabe ressaltar, também, que há um amplo e generoso entendimento com as diversas religiões, culturas, filosofias e demais segmentos, através do diálogo inter-religioso, intercultural e entre as diversificadas correntes filosóficas, científicas e artísticas.

Impõe-se uma rígida e cuidadosa ação educativa direta junto aos fiéis e adeptos; e, indireta, sobre toda a sociedade, pois, o mau “espírito” da intolerância subjaz no interior das várias classes sociais e pode exibir-se a qualquer pretexto.

Uma das características do povo brasileiro é a convivência pacífica e ordeira entre os diferentes. A miscigenação racial é bem uma prova dessa realidade, olhada com certa admiração por outros povos. Cabe-nos recordar, entretanto, que já se constataram, em passado não muito distante, casos de intolerância, sobretudo no campo religioso.

Quase sempre a intolerância religiosa ou de quaisquer outros tipos, todas decorrem do desconhecimento dos valores dos outros, portanto, causados por uma estreiteza de visão de conjunto.

Como um país laico, o Brasil não pode ter uma crença religiosa oficial, mas, a obrigação tem-na de garantir a liberdade de expressão das várias crenças e proteger essas manifestações.

A instituição do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa sinaliza, portanto, para o revigoramento da convivência harmoniosa entre as diferenças que compõem a sociedade brasileira.

Sejamos tolerantes! Respeitemos os plurais! Admiremos as diferenças! Defendamos a tolerância religiosa!

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